A formulação de hipótese se dá por um
processo de natureza criativa e requer experiência na área escolhida. para além
dos requisitos necessários para que uma hipótese seja considerada científica,
não há normas ou regras fixas que limitem a possibilidade de elaborar
hipóteses, assim como não se limita a criatividade humana ou se fundam regras
para ela. porém, Marconi & Lakatos, (2003) na sua obra fundamentos da
metodologia científica, sugere oito fontes fundamentais que podem originar
hipóteses.
1.Conhecimento familiar
O conhecimento familiar ou as intuições
oriundas do senso comum, perante situações vividas, podem levar a correlações
entre fenómenos observados e ao desejo de apurar a real correspondência
existente entre eles. não se trata aqui de provar cientificamente o
perceptível; ao contrário, trata-se de apurar se é "perceptível",
isto é, se há ou não uma correlação de facto entre os fenómenos.
Exemplos: o conhecimento popular
concede à "idade" e ao desejo de "afirmação" a rebelião do
adolescente; na área da psicologia podem-se elaborar hipóteses sobre o assunto,
entre elas: "em determinada fase do desenvolvimento mental do jovem, a
necessidade da afirmação do ego leva à contestação da autoridade dos pais e dos
valores da sociedade" ou "dada a 'necessidade' da afirmação do ego,
então contestação da autoridade dos pais e dos valores da sociedade".
outro exemplo partiria do conhecimento
Familiar de que as crianças,
"brincando de imitar" os adultos, aprendem a se comportar na sociedade; uma hipótese, igualmente
na área da psicologia, seria de que "a imitação é um dos processos de aprendizagem da
vida social".
2.Observação
Uma fonte rica para a construção de
hipóteses é a observação que se realiza dos factos ou da correlação existente
entre eles. as hipóteses terão a função de comprovar (ou não) essas relações e
explicá-las.
Exemplos: procedendo da
constatação da correlação entre o nível socioeconómico (classe social) do aluno
e o seu rendimento escolar, vários pesquisadores levantaram hipóteses sobre o
menor rendimento escolar dos alunos de classe social baixa, observando a
influência da alimentação, do ambiente cultural, da profissão dos pais, do
nível de aspiração educacional dos pais e até dos "valores" que a
escola transmite (partindo do princípio de que ela acentua as
"características" da classe alta e média).
3.Comparação com outros estudos
Podem-se enunciar hipóteses que
resultam de o pesquisador basear-se nas investigações de outro estudo ou estudos na
perspectiva de que as conexões similares entre duas ou mais variáveis
predominam no estudo presente.
Exemplo: Resumindo os
pressuposições da obra de Durkheim, o suicídio, obteremos as subsequentes
conclusões: a) a coesão social proporciona apoio psicológico aos membros do
grupo dominado pela ansiedades e tensões agudas; b) os índices de suicídio são
função das ansiedades e tensões não aliviadas a que estão sujeitas as pessoas;
c) os religiosos têm uma coesão social maior que os não religiosos e, portanto,
d) é possível prever e antecipar, entre religiosos, um índice menor de suicídio
do que entre os não religiosos.
4. Dedução lógica de uma teoria
Podem-se extrair hipóteses, por dedução
lógica, do contexto de uma teoria, isto é, de suas proposições gerais é
possível chegar a uma hipótese que afirma uma sucessão de eventos (factos,
fenómenos) ou a correlação entre eles, em determinada situação.
Exemplo: Ogbum, em sua obra social
change, apresenta a teoria da demora cultural, indicando que a transformação ou
o crescimento, no movimento total de uma cultura, não se processa no mesmo
ritmo em todos os sectores. se urna grande parte da herança social do homem é a
cultura material, para utilizá-la são necessários ajustamentos culturais,
denominados cultura adaptativa; as transformações nessa última são geralmente
precedidas por transformações na cultura material. se desejarmos realizar uma
pesquisa em área rural de angola, onde a televisão pública e via satélite tem
penetração, podemos partir da hipótese de que ela, transmitindo ideias,
crenças, conhecimentos e valores da sociedade urbana (cultura não material),
para uma região rural subdesenvolvida, com poucas alterações da cultura
material (técnicas e artefactos), influenciou as transformações da cultura
adaptativa, fazendo com que a cultura material ficasse defasada (ultrapassada)
em relação a ela.
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5. A cultura geral na qual a ciência se desenvolve
A cultura angolana, variante da cultura
ocidental europeia, por exemplo, dá ênfase à mobilidade e à competição, assim
como à felicidade individual, ao passo que a cultura bantu acentua os valores
grupais, preocupando-se menos com a felicidade individual e procurando evitar a
competição e, até certo ponto, a realização individual. esses, enfoques, dados
pela cultura geral, podem levar o cientista, principalmente na área das
ciências sociais, a se preocupar mais com determinado aspecto da sociedade,
originando hipóteses sobre temas específicos.
6. Analogia
As observações casuais da natureza,
assim como a análise do quadro de referência de outra ciência, podem ser fontes
de hipóteses por analogia.
Exemplo:
os estudos da ecologia das plantas e animais reflectiram no desenvolvimento da
ecologia humana: especificamente o fenómeno da segregação, conhecido na
ecologia da planta, originou a hipótese de que actividades específicas e tipos
de população semelhantes podem ser encontrados ocupando o mesmo território.
7. Experiência pessoal, idiossincrática (ou
reacção individual própria e típica a cada pessoa).
A maneira particular pela qual o
indivíduo reage aos factos, à cultura em que vive, à ciência, ao quadro de
referência de outras ciências e às observações constitui similarmente fonte de novas hipóteses.
Exemplos: Darwin, em sua obra a origem
das espécies, levantou a hipótese de que os seres vivos não são imutáveis,
oriundos de criações distintas, mas que se modificaram. ora, além de suas
observações pessoais, Darwin reuniu vários factos que eram conhecidos em sua
época, dando-lhes uma interpretação pessoal, da qual originou sua hipótese.
8. Casos discrepantes na própria
teoria
A teoria empresta direcção às
pesquisas, estabelecendo um elo entre o que é conhecido e o desconhecido, ou da
própria teoria tiram-se deduções lógicas que representam outros tantos
problemas e hipóteses. mas, às vezes, a fonte das hipóteses são as
discrepâncias apresentadas em relação ao que "deve" acontecer em
decurso da teoria sobre o assunto.
Exemplo: nas pesquisas sobre
comunicação estabeleceu-se a teoria, baseada nos factos, de que há pessoas que
podem ser classificadas como "líderes de opinião". a seguir, novas
pesquisas, realimentando a teoria, verificaram que essas pessoas possuíam prestígio,
isto é, status elevado na comunidade. sendo que o status é uma decorrência de
diversas variáveis, levantou-se a hipótese de que poderia existir um "tipo
ideal" de "pessoa influente". entretanto, as pesquisas
demonstraram a inexistência de muitas características comuns entre elas. dessa
discrepância surgiu a hipótese proposta por Merton, da existência de duas
categorias de pessoas, as influentes "cosmopolitas" e as
"locais", apresentando grupos de características distintivas.
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